quarta-feira, 9 de março de 2011

O perigo de uma única história - Chimamanda Adichie


Criada em um campus universitário no leste de Nigéria, em uma família bem estruturada de classe média, a escritora Chimamanda Adichie nunca passou por maus tratos, fome ou falta de serviços básicos, como saúde e educação.
Leitora e escritora precoce, Adichie logo percebeu que havia algo estranho com suas histórias. “Todos os meus personagens eram brancos de olhos azuis. Eles brincavam na neve, comiam maçã e falavam muito sobre o tempo, em como era maravilhoso o sol ter aparecido”, comenta. Mesmo sem nunca ter saído da Nigéria, a pequena escritora já reproduzia exatamente aquilo que lia nos livros britânicos e americanos – maioria em sua estante.
Isso fez Adichie perceber o quanto o ser humano é impressionável e vulnerável diante de uma história. Graças à sua educação, ela conseguiu expandir sua percepção e compreender que pessoas como ela, que viviam situações com as quais ela se identificava, também poderiam existir na literatura.
Adichie admite ter passado por situações difíceis na vida e que elas ajudaram a formar a mulher que hoje ela é. Mas ela defende que insistir somente nessas histórias negativas é uma forma de superficializar suas experiências e negligenciar as muitas outras histórias que a formaram. 
"Uma única história cria estereótipos. E o problema com estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles fazem uma história tornar-se a única história", relembra. Como consequencia, essas histórias acabam por roubar a dignidade das pessoas e dificultar o reconhecimento de nossa humanidade compartilhada, enfatizando como as pessoas são diferentes, em vez de como são semelhantes.
"Histórias têm sido usadas para expropriar e tornar maligno. Mas histórias podem também ser usadas para capacitar a humanizar. Histórias podem destruir a dignidade de um povo, mas também podem reparar essa dignidade perdida", diz. Adichie termina a palestra com um pensamento: "quando nós rejeitamos uma única história, quando percebemos que nunca há apenas uma história sobre nenhum lugar, nós reconquistamos um tipo de paraíso."


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